Por Tatiana Merlino
Caros Amigos
Caros Amigos
As mulheres brasileiras, nos últimos anos, conquistaram o mercado de trabalho, ocuparam os
assentos das universidades e implementaram uma lei que pune a violência doméstica. Elegeram
uma mulher presidente e, pela primeira vez na história do País, há 11 mulheres assumindo o
cargo de ministras de governo. Com isso, podemos pensar que o Brasil alcançou a igualdade de
gênero, certo? Errado. Muitos desafios ainda persistem.
assentos das universidades e implementaram uma lei que pune a violência doméstica. Elegeram
uma mulher presidente e, pela primeira vez na história do País, há 11 mulheres assumindo o
cargo de ministras de governo. Com isso, podemos pensar que o Brasil alcançou a igualdade de
gênero, certo? Errado. Muitos desafios ainda persistem.
Apesar de serem 51,3% da população brasileira, a presença feminina no
mercado de trabalho e na educação é marcada por distorções e
discrepâncias em relação aos homens. E, embora a criação Lei Maria da
Penha seja um grande avanço no combate à violência, sua efetivação
enfrenta dificuldades. Além disso, uma das principais bandeiras do
movimento feminista, a luta pela legalização do aborto, sofreu um revés
durante as eleições presidenciais de 2010, quando o debate assumiu um
tom ultrarreacionário.
Mercado de trabalho
No quesito trabalho, os números indicam uma grande participação
feminina. Em 2009, 58,8% das mulheres com mais de 16 anos, portanto, que
fazem parte da população economicamente ativa (PEA) do país, estavam
trabalhando, de acordo com Anuário das Mulheres Brasileiras 2011,
levantamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), do
governo federal e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
Já entre os homens com mais de 16 anos, esse percentual chegava a
81,5%. Tal diferença está ligada à deficiência da infraestrutura
dedicada à mulher. Segundo o Anuário, a falta de creches, por exemplo, é
um dos maiores entraves para que as mulheres aumentem sua participação
no mercado de trabalho. Em 2009, as creches atendiam só 18,4% das
crianças até 3 anos de idade.
Segundo Jaqueline Pitanguy, socióloga e fundadora da organização não
governamental Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), as
mulheres estão realmente avançando em termos da presença na força de
trabalho. Ela explica que esse aumento da participação feminina, nos
últimos anos, ocorreu principalmente em função da queda de fecundidade.
"Elas tem cada vez menos filhos e assim permanecem ativas. Essa é uma
mudança atual e muito interessante. A maior taxa de atividade feminina,
cerca de 75%, está na faixa de 30 a 39 anos, idade em que estariam
tendo ou criando filhos pequenos. Para se ter uma ideia, entre 2002 e
2009, a PEA feminina passou de 36,5 milhões para 44,4 milhões", resume a
socióloga.
Mais estudo, menos salário
Embora tenham ampliado sua participação na sociedade e no mercado de
trabalho, as mulheres ainda têm dificuldade de inserção em setores com
remuneração maior. Uma das diferenças de gênero apontadas pelo
levantamento é em relação ao grau de instrução e remuneração. Mesmo as
mulheres representando a maior parte da PEA com nível superior (53,6%-
sendo que a dos homens é de 51,3%), nos cargos com nível superior
completo, elas recebem apenas 63,5% do salário dos homens. "Ou seja, as
mulheres entraram no mercado de trabalho, mas em empregos menos
qualificados, em vias de extinção, com salários mais baixos", analisa
Margareth Rago, historiadora e professora da Universidade de Campinas
(Unicamp).
Já os dados em relação à educação apontam que as mulheres estudaram
mais que os homens. A média é de um ano a mais de estudo, segundo o
Anuário. O levantamento é uma compilação de dados de várias pesquisas
feitas sobre as condições de vida das mulheres brasileiras. Da
publicação, constam estatísticas sobre oito temas. Entre eles, saúde,
educação, violência, política e trabalho. Os dados apontam que a
qualificação em nível superior prova que o percentual feminino é, ao
menos, duas vezes maior do que o dos homens. Na graduação, elas
representam 22,6% dos estudantes na área de educação, enquanto os homens
são 11,4%. Na área de saúde, elas são 21,1%. Eles, 10,3%.
Funções sociais
O levantamento da SPM e Dieese aponta que a presença feminina no
mercado de trabalho reflete as funções sociais historicamente
desempenhadas pelas mulheres, relacionando-as ao espaço privado, ao
cuidado do lar e dos filhos. A pesquisa indica que a maioria das
mulheres ocupadas trabalha nos setores relacionados aos serviços de
cuidados como educação, saúde e serviços sociais, alojamento,
alimentação e serviços domésticos. Somente nesse último há 7 milhões de
mulheres trabalhando, mostra a pesquisa.
Além da taxa elevada do número de mulheres no mercado de trabalho
doméstico, a área é pouco atingida pela legislação trabalhista, recorda
Jaqueline Pitanguy. Para completar, "a maioria das mulheres que trabalha
nos serviços domésticos é composta por negras e pardas, e em grande
parte sem carteira assinada". Aliás, em relação às mulheres negras, "há
uma espécie de conjugação perversa, que sempre as coloca em desvantagem
na educação e no mercado de trabalho", aponta Jaqueline.
Outra pesquisa recente, a 4ª edição do Retrato das Desigualdades de
Gênero e Raça, também revela dados preocupantes em relação ao trabalho
doméstico remunerado. O estudo foi elaborado pelo Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), ONU Mulheres, Secretaria de Política para
as Mulheres (SPM) e Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade
Racial (SEPPIR).
De acordo com o levantamento, em 2009, 17,1% das mulheres no Brasil
trabalhavam como empregadas domésticas, enquanto apenas 1% dos homens
assumiam a mesma função. Já a média salarial das trabalhadoras com
carteira assinada era de R$ 568,50, enquanto a das sem registro era R$
321,10.
Dupla jornada
Ambas as pesquisas também apresentam dados sobre um problema grave
que as mulheres brasileiras enfrentam: a dupla jornada de trabalho. O
Anuário das Mulheres Brasileiras 2011 mostra que o tempo dedicado a
atividades domésticas é superior entre as mulheres, seja qual for a sua
ocupação. Enquanto as mulheres dedicam 22,4 horas por semana, os homens
dedicam 9,8 horas.
O tempo aumenta ainda mais quando as mulheres são inativas: 27,7
horas por semana, em contraposição para 11,2 horas dedicadas pelos
homens na mesma situação. "A carga de trabalho das mulheres dobrou.
Estamos no início de um processo, pois ainda há o predomínio da cultura
que diz que as mulheres são as únicas responsáveis pelo trabalho
doméstico, e pelo cuidado com os filhos. Houve melhoras, mudanças, mas o
conservadorismo ainda é muito grande", analisa Margareth Rago.
Já a 4ª edição do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça mostra
que 49,1% dos homens com mais de 10 anos declararam cuidar do trabalho
doméstico, sendo que a taxa sobe para 88,2% quando se fala em mulheres.
Desde os cinco anos de idade, 24,3% das meninas assumem tarefas nos
cuidados domésticos. Para os meninos, o número cai para 14,6%. Na faixa
de 10 a 15, garotas dedicam 25,1 horas semanais, e os meninos 10,2.
O Anuário também mostra que as mulheres representam 58,7% dos indigentes do país. São ainda os 53,7% dos pobres.
Retrocesso
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas mulheres e pelo
movimento feminista hoje é em relação à legalização do aborto. "A
questão do debate sobre o abortamento tem sofrido uma regressão no
país", avalia a socióloga
Jaqueline Pitanguy. "Temos uma legislação que não sofreu nenhuma
modificação, apenas permite o aborto em casos de risco de vida ou
estupro", lembra.
Jaqueline também vê o crescimento das correntes católicas e
evangélicas, que "demonizam o aborto", como um ponto de retrocesso no
debate sobre a legalização da prática. "Forças religiosas
fundamentalistas, aliadas à ação policial, vem impossibilitando a
prática e forçando as clínicas que atendiam mulheres de forma
clandestina a recuar". Segundo ela, essa investida pode afetar o índice
de mortalidade materna. Para se ter uma ideia, hoje, no país, o aborto
mal feito é a quarta causa de mortalidade materna.
Para avançar na questão, é preciso retirar o debate do campo
religioso, opina Jaqueline. "O Estado laico é fundamental, e é
importante lembrar que é ele que garante a liberdade de credo
religioso". Porém, tal debate é muito tênue, "e nas eleições
presidenciais ficou muito claro que esses setores religiosos têm uma
capacidade de arregimentação muito grande e massacrante. Nessa
conjuntura, o grande desafio é como chegar ao coração e mente dessa
população", pontua.
Para a historiadora e feminista Margareth Rago, o aborto também
continua sendo um dos principais desafios da luta das mulheres. "É
assustador. Há uma perda de força nesse terreno nos últimos anos e essa
questão é complicada, pois se há forças de crítica, oposição e esquerda,
também há uma direita se fortalecendo", pontua.
Assim como o movimento feminista, Margareth preocupa-se com medidas
recentes consideradas como um atraso: Estatuto do Nascituro, 'Bolsa
Estupro' (o projeto prevê um salário mínimo mensal durante 18 meses para
a mulher grávida por estupro que não interromper a gestação) e MP 577.
"Eu endosso a crítica de que elas são um retrocesso. É lamentável que
isso ocorra em um governo que tem uma mulher na presidência".
Jaqueline acredita que embora a chamada 'bolsa estupro' não tenha
sido aprovada no Congresso, existem inúmeros projetos que tratam do
aborto "e que são um horror". "Isso é reflexo da presença dos setores
chamados radicais religiosos no Congresso". Segundo ela, "há uma ameaça
constante".
Violência doméstica
No quesito violência, embora avalie-se positivamente a criação da Lei
Maria da Penha, o quadro é bastante preocupante. De acordo com dados do
Anuário das Mulheres Brasileiras 2011, quatro em cada dez mulheres já
foram vítimas de violência doméstica.
O Anuário reúne dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(Pnad), que mostra que 43,1% das mulheres já foram vítimas de violência.
Entre os homens, o percentual é de 12,3%. O Anuário aponta que, em
2009, de todas as mulheres agredidas no País, dentro e fora de casa,
25,9% foram vítimas de seus cônjuges ou ex-cônjuges.
A pesquisa revela a dificuldade do Estado no combate à violência de
gênero. Dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) apontam
que o número de atendimentos feito pela Central de Atendimento à
Mulher-Ligue 180 cresceu 16 vezes de 2006 para 2010. Em 2006, foram
realizados 46 mil atendimentos, e em 2010 foram 734 mil. Desse total,
108 mil atendimentos foram denúncias de crimes contra a mulher, sendo
que mais da metade de tais crimes eram casos de violência. O canal
também registrou um aumento na procura por informações sobre a Lei Maria
da Penha. Em 2007, foram pouco mais de 48 mil consultas, contra 82.170
em 2010.
Para Jaqueline Pitanguy, a promulgação Lei Maria da Penha é
fundamental e representa um avanço. "Ela 'pegou', é uma legislação
conhecida". Como exemplo, ela cita um trabalho feito pela Cepia junto a
caminhoneiros de todo o país. "Eles sabiam que a lei existia, que as
coisas em relação à violência contra a mulher tinham mudado", explica.
Sobre a dificuldade de implementação da lei, Jaqueline acredita que
existe um tempo de ajuste entre a promulgação da lei propriamente dita e
sua aplicação. "Aí entra uma série de coisas, inclusive características
de cada estado, como as relações de poder local", explica.
Mudança de valores
Iriny Lopes*, ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres
(SPM), acredita que a Lei Maria da Penha tem um "poder revolucionário
junto à sociedade que vitima de maneira tão drástica as suas mulheres".
Segundo ela, a "lei é mais que uma lei, é quase um estatuto, que
determina responsabilidades para o Judiciário, para todos os níveis do
Executivo e cria uma oportunidade de construirmos uma sociedade livre de
violência".
A ministra acredita que a lei é capaz de fazer uma mobilização social
e uma mudança de valores. No entanto, ela admite que sua implementação e
execução tem muitas dificuldades. "Tem uma parte do Judiciário que
reproduz essa cultura predominante em relação às mulheres, há baixa
celeridade nos julgamentos". Como exemplo, ela cita a determinação de
medidas protetivas, como a de separação de corpos quando a vida da
mulher está em risco. "Ás vezes demora-se seis meses para determinarem
uma medida dessas. E muitas vezes ela chega tarde, depois do velório",
lamenta a ministra.
Para ela, julgar os processos e punir os responsáveis é uma maneira
de mostrar que o País não vai conviver com a impunidade. "Para isso,
precisamos de um trabalho de mudança de comportamento das forças de
segurança que ainda ridicularizam mulheres que vão procurar os
serviços". Também há, explica, localidades importantes desprovidas de
delegacias especializadas no atendimento às mulheres. "Há estados que,
em nome da crise, estão fechando delegacias e obrigando mulheres a serem
atendidas em delegacias comuns, onde não há profissionais preparados
para recebê-las", critica.
Políticas públicas
Na avaliação da socióloga Jaqueline Pitanguy, nas últimas décadas o
Brasil avançou muito em relação às políticas públicas para as mulheres.
Ela ressalta a criação, em 1985, do Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher, com o objetivo de promover políticas para eliminar a
discriminação de gênero e assegurar a participação feminina nas
atividades políticas, econômicas e culturais do país. "Desde então,
começa-se a ter um olhar de gênero para as grandes políticas públicas e
desenvolver-se algumas políticas específicas para as mulheres", diz a
socióloga. Ela também ressalta a criação da Secretaria de Políticas para
as Mulheres (SPM), em 2003, que "tem tido um papel fundamental no
sentido de definir através de planos a atuação do Estado".
Já Margareth Rago tem dúvidas em relação à efetividade de políticas
públicas implementadas pelo Estado, porque "o que vem do Estado vem de
maneira muito negociada, num jogo muito perverso".
A ministra Iriny Lopes explica que a importância da criação da SPM é
ter sido a primeira instituição governamental "para cuidar efetivamente
das políticas para as mulheres". Segundo ela, embora o orçamento da
pasta seja modesto, "com ele temos construído o pacto de enfrentamento à
violência contra as mulheres".
Entre os principais avanços da secretaria, Iriny destaca a
visibilidade que a pauta das mulheres ganhou, em âmbito nacional, e o
estabelecimento de parcerias, tanto através de programas próprios com
entidades de gênero, como com outros ministérios e governos estaduais e
municipais. "Hoje nós temos praticamente em todos os governos estaduais organismos de políticas para mulheres. Há governos estaduais que têm
secretarias, há governos estaduais que têm coordenadorias ligadas aos
gabinetes dos governadores ou governadoras, há subsecretarias em
secretarias de peso dentro dos governos, bem como os organismos de
política para as mulheres nos municípios. Então, nós estamos trazendo a
pauta das mulheres para a institucionalidade governamental de maneira
nacionalizada e articulada", explica.
Campo e floresta
Em termos de políticas públicas para melhorar a situação das
mulheres, hoje, o Brasil está em fase de "compreensão das desigualdades e
da necessidade de ter políticas específicas", acredita Iriny. Entre os
principais problemas que o País tem que enfrentar, na sua opinião, está o
atendimento às mulheres do campo e da floresta, "pela própria condição
de morarem longe dos equipamentos públicos. Esse ainda é um grande
desafio que, nas políticas montadas pelo Brasil Sem Miséria, em parceria
conosco e com outros ministérios, acredito que vamos avançar muito".
Outro desafio enorme, explica, é a igualdade no mundo do trabalho.
Como as próprias pesquisas revelam, as mulheres têm mais escolaridade
que os homens no Brasil, hoje, mas isso, automaticamente, não significa
dizer que há igualdade no mundo do trabalho. "A mulher ainda tem muito
mais dificuldade de acesso a cargos de comando, seja chefia, seja
diretoria, e ainda é a principal vítima dos assédios moral e sexual.
Além disso, a mulher enfrenta muitos setores empregadores do Brasil que
resistem em cumprir a licença-maternidade da forma como a legislação
determina".
Conquistas
Entre as principais conquistas da luta pela emancipação feminina, que
é "subjetiva e objetiva", aponta Iriny, está o "respeito que vemos
conquistando. Hoje somos muito mais respeitadas do que no passado,
quando éramos chamadas de 'mal amadas', 'as que davam chilique'".
Segundo ela, hoje as feministas "formulam, incidem, acabam criando, são
ouvidas, têm audiência em governos sérios. Está no ponto ideal? Não, mas
está muito melhor que há 40 anos atrás", avalia. Além disso, a ministra
lista outras vitórias, como a conquista de legislação voltada para as
mulheres, a ampliação da participação feminina no mercado de trabalho, o
aumento da escolaridade, e a redução do número de analfabetismo. "Tudo
isso é fruto dessa luta, dos movimentos e da coragem das mulheres",
finaliza.
A historiadora Margareth Rago também faz questão de ressaltar as
conquistas de 40 anos de feminismo no Brasil. "A gente tem que falar
delas para valer a pena. Fico preocupada quando a gente enfatiza só os
aspectos negativos". Entre os pontos positivos, ela destaca a construção
de uma cultura feminista de esquerda no país, "que nasceu na ditadura
militar, bebeu no marxismo e criou outro modo de fazer política, que eu
acho notável, ampliando o conceito de política".
Em construção
A despeito dos inúmeros desafios que ainda se colocam para as
mulheres brasileiras hoje, Margareth acha que, de uma maneira geral, a
situação do país melhorou muito em quatro décadas de feminismo. "Estamos
criando novas linguagens, novos modos de fazer. O feminismo penetrou em
áreas como artes visuais, crítica cultural, etc".
No começo do feminismo no Brasil, diz, "tudo que se fazia era
descaracterizado, desconsiderado, sem importância, e hoje acho que as
mulheres conseguiram um respeito maior da sociedade".
Entre as conquistas, ela cita uma transformação das relações
cotidianas, das formas de organização, e na produção da subjetividade.
"Os homens se transformaram muito nesses últimos 40 anos. Mas eles não
tiveram que se refazer no seu íntimo, porque sempre foram e continuam
sendo educados para o mundo público. Já as mulheres, de determinados
séculos para cá, foram educadas para a esfera do privado, e tiveram que
jogar fora um modelo que estava sendo imposto para buscar novas formas
de viver, de existir sem modelos".
No entanto, a historiadora acredita que esse processo não é um ciclo
encerrado. "Ele está em construção. Não acho que a gente já tenha
conquistado tudo, não tenho dúvidas que estamos no início de um processo
de mudanças. Porém, em relação a 40 anos atrás houve avanços. A mulher
pública era considerada puta. Estamos vivendo uma transformação básica
para começar a se falar em cidadania, agora está tudo para ser
conquistado".
Margareth alerta, porém, para o conservadorismo e preconceito da
sociedade brasileira. "Também sabemos que, por conta desse
conservadorismo, as coisas voltam muito rapidamente. Quando se pensa que
tivemos conquista de direitos, surgem situações que colocam tudo a
perder. A sensação é que a gente tem que estar brigando o tempo todo".
Tatiana Merlino é jornalista.
*A entrevista com Iriny Lopes foi feita antes de sua saída da Secretaria de Política Para as Mulheres
Fonte: Caros Amigos
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